“É preciso falar”


No último final de semana - (março de 2011) aconteceu em Cuiabá mais uma capacitação de agentes para a Pastoral da Aids – Regional Oeste-2 a qual pertence a Paróquia São Cristovão de Campo Novo do Parecis. Tratada com certa indiferença pela grande maioria da população e pelas autoridades religiosas, a Pastoral da Aids é uma importante ferramenta de apoio e de disseminação para a abordagem deste tema (HIV/AIDS), nos municípios matogrossenses. De Campo Novo apenas um representante participou da capacitação que aconteceu nos dias 18,19 e 20 e reuniu 50 agentes de todo o Estado.
Nestes três dias de intensas discussões inúmeros pontos foram apresentados e que merecem ser divididos com a população. O vírus do HIV esta presente em nosso ciclo social assim como o vírus da gripe esta, assim como outras doenças hospedeiras estão, o que não podemos mais é fechar nossos olhos para a Aids e fingir que estamos imunes envoltos em uma redoma de vidro invisível.
Além das discussões, os agentes puderam acompanhar o relato de duas mulheres portadoras uma do HIV (Kátia Damescena do Movimento Nacional das Cidadãs Positivas) e a segunda com a doença da Aids já manifestada (Iderci Inácio do município de Cáceres). São duas mulheres já maduras que convivem com o vírus a mais de 10 anos. O mais impressionante é que em nenhum dos casos é possível visualmente identificar sintomas do HIV/AIDS.
Pois bem, segundo Kátia e Iderci, ambas foram infectadas por seus parceiros que também não sabiam que eram portadores do vírus. “ Casamento não é segurança para ninguém”, contou Kátia.
Diante dos fatos narrados, as discussões em torno da transmissão, contágio e convivência foram amplamente discutidos e pasme, em vários momentos eu fiquei em estado de ‘choque’, o preconceito ainda é tão presente que elas são umas das poucas pessoas no Mato Grosso que não tem medo e vergonha de exporem sua atual situação como soro positivo. -Em nenhum momento pude presenciar lágrimas nos olhos delas, o que eu atentamente ouvi o tempo todo é o tratamento que é dado a elas enquanto portadoras do HIV/AIDS.
Por vários momentos eu me furtei a pensar e tentar fazer comparativos com Campo Novo do Parecis, uma cidade com 27 mil habitantes segundo dados do IBGE, tem apenas em tratamento 21 pessoas. Acredita-se que estes números ultrapassem em mais de cem pessoas e que por medo da opinião pública estão buscando a medicação em outras cidades. Poucos sabem quem são essas pessoas e como elas contraíram o vírus. -Poucas informações são fornecidas neste âmbito pela Vigilância Epidemiológica, vale ressaltar que o município por estar em um ponto estratégico recebe diariamente uma grande quantidade de pessoas vindas de outros Estados e municípios principalmente caminhoneiros que pernoitam na cidade.
É preciso falar, tornar as discussões e as abordagens sobre o HIV/AIDS mais amplas e claras. Deixo aqui um desafio; Você sabe a diferença entre o HIV e a AIDS?


Evandro Strieder – Jornalista